sábado, 27 de novembro de 2010

Morte e vida de grandes cidades, de Jane Jacobs

Os usos das calçadas: integrando as crianças
Fonte: Google Imagens
Entre as superstições do planejamento urbano e do planejamento habitacional existe uma fantasia sobre a transformação das crianças, condenadas a brincar nas ruas, pagando o preço moral e físico de crianças na rua. Pudera essas crianças carentes ser retiradas das ruas e colocadas em playgrounds. Tsc tsc tsc... Vejamos agora a historia real: alguns conjuntos habitacionais, com seus generosos gramados e playgrounds, desinteressantes e freqüentemente desertos, guardam em seu interior um corredor polonês formado por valentões, que fazem as crianças esvaziar os bolsos e as espancam. Essas crianças voltam então para a rua tradicional, onde não correm o risco de extorsão. Elas têm uma quantidade enorme de ruas para escolher e, espertas, escolhem as mais seguras, sempre com um comerciante ou alguém a quem recorrer. Vejamos outra história real: as “gangues de rua” travam suas “brigas de rua” principalmente em parques e playgrounds. Além do mais, e cada vez com maior freqüência, as crianças que participam desses horrores são identificadas como moradoras dos conjuntos habitacionais das superquadras, onde se conseguiu tirar das ruas as brincadeiras cotidianas (as próprias ruas foram eliminadas na maioria). Esses conjuntos habitacionais mostram, entre outras coisas, a intenção de tirar as crianças das ruas. Na vida real, que mudança significativa ocorre de fato se as crianças são transferidas de uma rua cheia de vida para os parques ou para os playgrounds públicos ou de conjuntos habitacionais? Na maioria dos casos, (não em todos, felizmente), a mudança mais significativa é esta: as crianças saem de sob os olhos vigilantes de uma grande quantidade de adultos para um lugar onde a proporção de adultos é baixa ou inexistente. A vigilância dos adultos que se encontram e conversam na calçada é só aparentemente ocasional: os adultos nem sempre são os mesmos, porque outros já aparecem na janela e outros passam pra lá e pra cá, ou se detêm um pouco. Entre as superstições do planejamento urbano e do planejamento habitacional existe uma fantasia sobre a transformação das crianças, condenadas a brincar nas ruas, pagando o preço moral e físico de crianças na rua. Pudera essas crianças carentes ser retiradas das ruas e colocadas em playgrounds. Tsc tsc tsc... Vejamos agora a história real: alguns conjuntos habitacionais, com seus generosos gramados e playgrounds, desinteressantes e freqüentemente desertos, guardam em seu interior um corredor polonês formado por valentões, que fazem as crianças esvaziar os bolsos e as espancam. Essas crianças voltam então para a rua tradicional, onde não correm o risco de extorsão. Elas têm uma quantidade enorme de ruas para escolher e, espertas, escolhem as mais seguras, sempre com um comerciante ou alguém a quem recorrer. Vejamos outra história real: as “gangues de rua” travam suas “brigas de rua” principalmente em parques e playgrounds. Além do mais, e cada vez com maior freqüência, as crianças que participam desses horrores são identificadas como moradoras dos conjuntos habitacionais das superquadras, onde se conseguiu tirar das ruas as brincadeiras cotidianas (as próprias ruas foram eliminadas na maioria). Esses conjuntos habitacionais mostram, entre outras coisas, a intenção de tirar as crianças das ruas. Na vida real, que mudança significativa ocorre de fato se as crianças são transferidas de uma rua cheia de vida para os parques ou para os playgrounds públicos ou de conjuntos habitacionais? Na maioria dos casos, (não em todos, felizmente), a mudança mais significativa é esta: as crianças saem de sob os olhos vigilantes de uma grande quantidade de adultos para um lugar onde a proporção de adultos é baixa ou inexistente. A vigilância dos adultos que se encontram e conversam na calçada é só aparentemente ocasional: os adultos nem sempre são os mesmos, porque outros já aparecem na janela e outros passam pra lá e pra cá, ou se detêm um pouco. Esses conjuntos habitacionais mostram, entre outras coisas, a intenção de tirar as crianças das ruas. Na vida real, que mudança significativa ocorre de fato se as crianças são transferidas de uma rua cheia de vida para os parques ou para os playgrounds públicos de conjuntos habitacionais? Na maioria dos casos (não em todos, felizmente), a mudança mais significativa é que as crianças saem de sob os olhos vigilantes de uma grande quantidade de adultos para um lugar onde a proporção de adultos é baixa ou inexistente. A vigilância desses adultos que se encontram e conversam na calçada é só aparentemente ocasional, também pelo fato de os adultos nem sempre serem os mesmos. Sem dúvida, nem todas as calçadas têm essa espécie de vigilância, e esse é um dos problemas urbanos que o planejamento deveria ajudar a corrigir. Calçadas pouco usadas ou com uma vizinhança que troca de endereço constante e rapidamente não oferecem vigilância adequada para a educação de crianças. Mas os playgrounds e os parques próximos dessas ruas são ainda menos saudáveis. Os planejadores da Cidade-Jardim, em seu ódio pelas ruas, acharam que a solução seria construir pátios para as crianças no centro das superquadras, conduta herdada pelos projetistas da Cidade-Jardim Radieuse. Hoje, varias amplas áreas reformadas estão sendo replanejadas segundo o princípio dos parques encravados no meio dos quarteirões. O problema desse arranjo é que nenhuma criança com iniciativa e perspicácia vai permanecer voluntariamente num lugar tão entediante depois dos seis anos de idade. Alem do mais, pode-se verificar em plantas de construção que esse tipo de planejamento exige que os prédios estejam voltados para a parte de dentro do pátio. Não fosse assim, a graça do pátio não seria aproveitada e se perderia a facilidade de vigilância e acesso. Dessa forma, os fundos dos prédios, quase sem uso, voltam suas paredes cegas para as ruas. As calçadas movimentadas têm também aspectos positivos para a diversão das crianças, e esses aspectos são no mínimo tão importantes quanto a segurança e a proteção. As crianças precisam de bons locais onde possam brincar e aprender; precisam de oportunidades para praticar esportes; precisam de um local perto de casa, ao ar livre, sem um fim especifico, onde possam brincar, movimentar-se e adquirir noções do mundo. É essa recreação informal que as calçadas propiciam. As pessoas das cidades que têm outros trabalhos e afazeres têm condições ao menos de supervisionar a recreação das crianças e incorporá-las à sociedade, e o fazem enquanto se ocupam de suas outras atividades. Os urbanistas parecem não perceber quão grande é a quantidade de adultos necessária para cuidar de crianças brincando, pois espaço e equipamentos não cuidam delas, são só complementos úteis. Na prática, é só com os adultos das calçadas que as crianças aprendem o principio fundamental de uma vida urbana próspera: as pessoas devem assumir um pouquinho de responsabilidade pública pelas outras, mesmo que não tenham relações com elas. Trata-se de uma lição que ninguém aprende com por lhe ensinarem. Aprende-se a partir da experiência de outras pessoas sem laços de parentesco ou de amizade intima ou de responsabilidade formal para com você. As crianças conseguem assimilar essa lição surpreendentemente cedo e mostram que assimilaram ao reconhecer que também fazem parte desse processo. A existência ou a ausência desse tipo de comportamento nas crianças da cidade é uma indicação muito boa da existência ou da ausência do comportamento responsável de adultos em relação à calçada e às crianças que a utilizam. A diversão em calçadas movimentadas e diversificadas difere de praticamente todos os outros tipos de lazer de que as crianças dispõem: uma recreação que não se encontra sobre as rédeas do matriarcado. Planejadores e projetistas são, na sua maioria, homens. Estranhamente, eles criam projetos e planos que desconsideram os homens como integrantes da vida diária: fazem projetos estritamente para sociedades matriarcais, como os conjuntos habitacionais. Localizar o trabalho e o comercio próximos das residências, mas mantê-los afastados, de acordo com a tradição imposta pela teoria de Cidade-Jardim, é uma solução tão matriarcal quanto situar as residências a quilômetros de distancia do trabalho e dos homens. Os locais de trabalho e comercio devem mesclar-se às residências. A oportunidade (que na vida moderna tornou-se privilegio) de brincar e crescer num mundo cotidiano composto tanto de homens como mulheres é possível e comum para as crianças que brincam em calçadas diversificadas e cheias de vida. A fascinação das crianças pela vida nas ruas foi constatada há muito tempo por especialistas em recreação, geralmente com desaprovação. Os mesmos deploram a “tendência inflexível das crianças de vadiar nas ruas da cidade, cheias de vida e aventura, tão característicos de hoje como em 1928.”. A extraordinária comodidade das calçadas é um trunfo importante também para as crianças. Nesses momentos, as crianças dispõem e utilizam de todos os meios para exercitar-se e divertir-se. Á medida que as crianças crescem, essa atividade informal fora de casa passa a exigir menos do físico e acarreta um tempo mais prolongado com os outros. O requisito para qualquer uma dessas variedades de recreação informal não é a existência de nenhum tipo de equipamento rebuscado, mas sim de espaço num local conveniente e interessante. A brincadeira é prejudicada se as calçadas forem muito estreitas e se não tiverem pequenas irregularidades no alinhamento das construções. Quanto mais movimentadas e atraentes forem as calçadas e quanto maior o numero e a variedade de usuários, maior deverá ser a largura total para comportar seus usos satisfatoriamente. Contudo, mesmo com a falta de espaço adequado, a localização conveniente das ruas e o interesse despertado por elas são tão importantes para as crianças – e a boa vigilância tão importante para os pais – que elas de adaptam ao acanhado espaço da calçada. A idéia de se livrar das ruas, desde que isso seja possível, e depreciar e menosprezar sua função social e econômica na vida urbana é uma das mais nocivas e destrutivas do planejamento urbano ortodoxo. É o máximo da ironia que ela seja posta em prática com tanta freqüência em nome de fantasias nebulosas sobre a criação de crianças nas cidades.

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