sábado, 25 de setembro de 2010

The Edukators

Fonte: Google Imagens
O diretor, Hans Weingartner (O Som das Nuvens), de 28 anos, filmou The Edukators (Die fetten jahre sind vorbei, 2004, Alemanha/Áustria), como uma forma de provocação à sua geração sem ideais políticos, o que abre uma discussão interessante sobre a juventude rebelde.  Ser rebelde, hoje em dia, ficou muito difícil. Quem quer ser um idealista no capitalismo selvagem em que vivemos? Weingartner nos mostra que essa geração perdeu seu poder de protesto.
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A história gira ao redor de três ativistas anticapitalistas que vivem no centro de Berlim,  Jule, seu namorado Peter e Jan (Daniel Brühl, o mesmo de "ADEUS, LENIN"), o melhor amigo de Peter, e um rico homem de negócios, Hardenberg.  Jan e Peter acreditam que podem mudar o mundo. Eles se autodenominam "Os Edukadores", rebeldes que expressam sua indignação contra a injustiça social e a ideologia burguesa de forma pacífica - e criativa-: eles invadem mansões, trocam móveis e objetos de lugar e espalham mensagens de protesto: “Os anos de fartura estão acabados”.   A denúncia do acúmulo quase inutilizável de riqueza é feita sem imagens dramáticas. O capitalismo não é rejeitado porque não tem "pena" dos pobres, mas por sua natureza intrinsecamente coisificadora, por ser uma máquina de transformar até a rebelião contra ele mesmo em mercadoria (você pode escolher em vitrines os símbolos da rebeldia dos anos 70), pela idiotice dos milhões que passam horas em frente à TV, pela interdição da liberdade.  Em certo momento, o personagem de Daniel Brühl diz que todas as revoluções se esgotaram. Que, hoje em dia, o que era ideal de luta contra o sistema se transformou em camiseta que se compra em qualquer esquina. A revolução se tornou um bem de consumo. Portanto, o ideal dos Edukators não poderia ser mais apropriado: combater o consumismo e a distribuição de renda desigual. Os jovens encaram a mídia, como um meio de alienar mais ainda a todos, com programações que buscam tirar as pessoas da realidade e não terem nenhuma vontade de mudar a realidade, criando assim um sentimento conformista geral.  O filme expressa a encruzilhada dessa geração: a rejeição ao sistema vem junto com a mais absoluta descrença nas formas institucionalizadas de luta política.  A atitude deles não é a de Robin Hood; é sim deixar os abastados inseguros, de que algo está prestes a acontecer em suas vidas, independentemente dos sistemas de segurança de última geração que o seu dinheiro possa comprar. 
Fonte: Google Imagens
Durante uma viagem de Peter, Jan e Jule invadem a casa de Hardenberg. Na casa eles agem como os Edukadores, mas Jule esquece seu celular. Eles invadem novamente a casa, porém são surpreendidos pelo empresário, o que os força a sequestrá-lo. Com a ajuda de Peter eles vão para uma casa de campo onde as belas paisagens do "cativeiro" contrastam com o mundo repressivo e mercantilizado da cidade. Sem nenhuma estratégia definida e atravessados por um sentimento humanista, o que fazer com o cada vez mais simpático sequestrado? Nesse lugar há grandes diálogos entre o magnata e os três jovens, como um embate entre anarquismo e capitalismo, tais como a motivação dos capitalistas, de viver em função da carreira e do lucro. Os melhores diálogos ocorrem quando os quatro discutem política à mesa de jantar após fumarem maconha. Hardenberg revela no ano de 1968 pertencia a uma facção revolucionária, assim como a sua esposa, que combatia o poder burguês. Foi radical, fez experiências com drogas, experimentou a liberdade sexual... Depois, casou, teve filhos, a razão foi falando mais alto... Como reza o ditado, ser comunista até os 30 anos de idade é sinal de indignação e de lutar por causas justas; após os 30 anos é sinal de burrice. Nas falas do executivo o idealismo e a radicalidade dos jovens aparecem como uma fase de um ciclo educativo, uma espécie de preparação para a "vida real". A experiência vivida durante o sequestro, as lembranças de um passado aparentemente simplório mas alegre vieram à tona e fizeram sim, com que o sequestrado repensasse alguns dos valores mais importantes da vida. Embora isso não o tenha modificado de todo. "Algumas pessoas não mudam nunca"
Fonte: Google Imagens
No caso de Jan, Peter e Jule ainda existe uma esperança de ideais revolucionários. Com estes personagens, Weingartner quer chamar a atenção para as questões sociais e ainda revelar que os rebeldes da época viraram ministros e executivos. Desenrola-se então uma história que mostra um encontro de gerações onde todos começam a questionar seus valores. Os ideais vão ser colocados à prova duas vezes na casa dos Alpes da tia de Jule, local para onde o sequestrado foi levado: primeiro, sem munição, eles tem de por a mão no gatilho, tem de usar algum tipo de "instrumento de opressão"; segundo, Peter irá descobrir que Jan e Jule estão juntos. 
Fonte: Google Imagens
The Edukators te faz pensar como que o pensamento jovem de mudar o mundo com uma atitude muda tão rápido. Faz com que pensemos e repensemos as nossas escolhas e as consequências delas. Assim como a juventude busca, hoje, novos caminhos para mudar o mundo em que vive. Como a Arquitetura está presente nas intervenções que eles realizam (referência para a reforma da sala 134) e também pelo fato de que o filme é todo rodado em câmera digital, o que nos dá mais realismo. A mensagem dos Edukators não é uma mensagem reacionária. Não chega nem mesmo a ser um pedido de revolução. O objetivo deles é, antes de tudo, não se renderem ao sistema. Se há algo que eles ensinam é um exemplo de coragem. De não se deixar alienar, de acreditar na igualdade sabendo que sentimentos utópicos de uma sociedade perfeita não levam a nada. Sim, os Edukators possuem o desejo de uma revolução, mas é uma revolução que só pode começar se cada um de nós começarmos a dizer “não” ao “querer mais” e “sim” a virtudes, como a tolerância e a lealdade. É um filme de reflexão. Ao final da sessão, o diretor comentou que normalmente não devemos fazer aquilo que vemos nos filmes. Mas nesse caso deveríamos seguir a linha de pensamento dos personagens, mesmo que para isso, tivéssemos que superar nossos medos e temores. E concluiu com uma variação da frase do personagem Jan: "Todos nós participamos desse jogo inconscientemente. Só aqueles que tomam consciência da Matrix mudam a forma de jogar". Não é ser educado. É se educar. Afinal, “Todo coração é uma célula revolucionária”
Fonte: Google Imagens

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