quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mon Oncle

Fonte: Google Imagens
[ edit ] CastMon Oncle é filminho ítalo-francês de 1958, de Jacques Tati. É uma sátira à mecanização e ao culto à modernidade tecnológica já vigente na década de 50. A casa para o filme (Villa Arpel), projetado por Jacques Lagrange, foi construída em 1956, no La Victorine Studios (agora, Riviera Studios), perto de Nice, e demolida após a filmagem ser concluída.
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Charles Arpel e Madame Arpel têm essa casa moderna e asséptica que representa a paixão com a arquitetura moderna, eficiência mecânica e de estilo americano, consumismo e acessórios domésticos de última geração. Tudo na casa deles é novo, clean, high-tech, programado: a espontaneidade não tem lugar. Tudo é representativo e não funcional; hostil para o conforto dos moradores.Todas as vezes que a campainha é apertada, a fonte em formato de peixe, disposta no meio do geométrico jardim, é acionada. O chafariz é desligado de acordo com a importância da visita. Na escolha da arquitetura moderna para pontuar as suas sátiras, Tati disse uma vez, "Les lignes géométriques ne pas les gens rendent aimables" (Linhas geométricas não produzem pessoas simpáticas ). Assim, cada ângulo da Villa Arpel enfatiza a supremacia da estética superficial e dispositivos elétricos sobre a realidade da vida diária. 
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Neste cenário futurista, surge o irmão da senhora, o tio, Monsieur Hulot, inadaptado ao mundo moderno, estéril e monótono dos Arpell. Em meio aos avanços da época celebra as coisas simples que ainda existem nas grandes cidades. O título faz referência exatamente a esse membro da família que não se encaixa nessa mentalidade corrente: Hulot, interpretado pelo próprio Tati. Gérard Arpel vive com seus pais neste novo subúrbio de Paris, situado para além do desmoronamento de edifícios de pedra dos bairros antigos da cidade e admira seu tio justamente por estar fora dos padrões impostos pela sociedade já que seus pais estão firmemente arraigados na existência do trabalho, nos papéis de gênero, numa sociedade fixa, estratificada, bem como na aquisição de bens e status através da ostentação. Hulot faz o contraponto da casa moderna da família Arpel: ele vive numa confusa periferia em que a ordem é estabelecida pelos próprios moradores. Sempre que Hulot vai visitar a irmã, atravessa as ruínas do muro que representa a ruptura da cidade tradicional com a cidade moderna. De um lado, uma família extremamente formal. Do outro lado a alegria de viver com simplicidade. A ordem contra a desordem, modernidade contra o tradicional. 
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Ao mesmo tempo, Tati coloca em questão os novos conceitos estéticos emergentes na Europa da década de 50. O filme vai além de mostrar o moderno e o não moderno: satiriza a interferência provocada pelas inovações tecnológicas dentro do cotidiano das pessoas. Na casa da família Arpel, a cozinha é moderna, o portão abre sozinho, o design dos móveis é arrojado - e desconfortável: “Tudo se comunica”. É, na realidade, a própria casa que dita as regras da família. As lajotas indicam onde se deve pisar, a mesa com guarda-sol mostra onde fazer as refeições. A casa vigia e parece ter olhos. Apesar da beleza superficial do seu design moderno, o Arpels em casa são totalmente impessoais: subordinam sua individualidade para manter sua posição social e novas posses.
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Tati enfatiza seus temas em torno do estilo de vida Arpel com tons monocromáticos e dias nublados, cores vivas e brilhantes de luz coincidem apenas com a chegada de visitantes, principalmente do tio Hulot. Tal como acontece com a maioria dos filmes de Tati, Mon Oncle é uma comédia visual, em que cores e iluminação são empregadas para ajudar a contar a história. É praticamente mudo (a não ser que você fale francês) e utiliza da sonoplastia para caracterizar os ambientes, como os ruídos do abre e fecha dos aparelhos "modernos" dos Arpel que faz a casa parecer uma verdadeira fábrica, tornando a relação em família fria - e vazia - como a própria casa onde moram e o canto do passarinho de Hulot.
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Abaixo, um trecho da introdução da Metodologia Científica, Televisão e Ficção Seriada Quarta Parte - As imagens como vetores da atração comunitária de Cláudio Cardoso de Paiva da Universidade Federal da Paraíba.

“Com Jacques Tati, na “mudez musical” do cinema francês, no pós-guerra, as falas proliferam através dos recursos ótico-auditivos. Em “Meu Tio” (1958), Tati fala aos olhos através da mímica, despertando, por meio do cômico, para os aspectos micrológicos do cotidiano, quando os indivíduos mergulharam num estilo de vida em veloz transformação, sob o efeito das novas tecnologias. Tati exibiu como ninguém os ares de solidão e incomunicabilidade do homem moderno, e a sua estratégia feliz no cinema consiste em congregar os solitários e emudecidos do planeta através da irônica visibilidade das imagens. O êxito de Tati está em mostrar criticamente as formas de inadequação, impropriedade e desconexão entre os hábitos antigos e as tecnologias modernas, isto é algo que dificilmente poderia se revelar sem o olhar intrometido e zombeteiro da câmera.”.
Ouça a música aqui!
A modernidade é admirada pela família Arpel também fora da casa. Charles, o Sr. Arpel, é dono da fábrica de plásticos Plasta. Nela, fica também evidenciada outra crítica pronunciada por Jacques Tati: a da nova sociedade industrial. O trabalho maçante e repetitivo dos funcionários, que dão ênfase às atividades sob os olhos do patrão.  Representando um período pós-guerra na França, Mon Oncle fala-nos da orientação para ambientes "futuristas", retratando a evolução do design em contraste com os ambientes tradicionais vividos num bairro normal francês e nos mostra a valorização exacerbada pelas classes média-altas a esses valores, em detrimento de valores de maior proximidade com o outro. 
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