quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Elementos decodificados



46º Salão Internacional do Móvel - Milão, Itália

Água, ar, terra e fogo são os elementos com que a filosofia ocidental, desde a Antigüidade, tenta explicar o universo. Do outro lado do mundo, na China, onde o pensamento é regido pelo princípio yin e yang, água, terra e fogo, mais madeira e metal, são considerados as cinco regiões do paraíso. A curadoria da mostra Decode Elements, evento paralelo ao Salão Internacional do Móvel e promovido pela revista Interni, valeu-se desse complexo de tradições culturais e filosóficas para estimular consagrados nomes do design a interpretarem, no plano material, construtivo, o valor simbólico e pragmático dos elementos ao nosso redor e, assim, decodificar o mundo.

METAL - água no Hemisfério Sul


Projeto: Ron Arad
Realização: Marzorati Ronchetti e S.Pellegrino

Maços de tubos de 10 mm de espessura de aço inox brilhante foram curvados para dar forma à cadeira de balanço escultural de Ron Arad. A forma sinuosa da peça se insere geometricamente em uma esfera de 160 cm de diâmetro. A técnica já havia sido aplicada por Arad na Ripple Chair, poltrona criada para a mostra OpenairDesign, também em Milão, em 2005. O sistema que permite a criação de peças tridimensionais de grande complexidade foi desenvolvido por Ron Arad em colaboração com Roberto Travaglia, da Marzorati Ronchetti, empresa italiana especializada em estruturas metálicas. Porém, para o trabalho apresentado agora, a equipe elevou o grau de dificuldade de execução ao agrupar os anéis de aço sobre um esqueleto para formar um chassis fechado - uma esfera deformada pelo efeito de compressão em metade de sua superfície.



METAL - O casulo dourado 

Projeto: Dominique Perrault Architecture
Realização: GKD

Um túnel de 7,40 m de comprimento, 3,50 m de largura e 2,10 m de altura, construído com tela metálica e suportado por uma estrutura de cabos de aço e alumínio anodizado dourado, descansa sobre uma plataforma de madeira formada por 33 pallets industriais. Assim é o Casulo Dourado imaginado por Dominique Perrault para representar o processo criativo: uma crisálida que simboliza infinitas possibilidades. Esse invólucro orgânico, imperfeito, mas gracioso, essência de toda forma de criação estabelece um diálogo com o Castelo Sforzesco, obra centenária onde convivem passado e criações contemporâneas.

LUZ - Eu imagino, imagino, imagino

Projeto: Ingo Maurer

"Com a luz não se pode projetar nada", diz Ingo Maurer, "você imagina momentos e efeitos e se esforça para realizá-los, em tentativas e testes". Maurer sabe que atingiu seu objetivo quando faz alguém, "pelo menos uma pessoa", sorrir. Com essa filosofia de trabalho, Ingo Maurer tratou as muralhas do Castelo Sforzesco. De um lado foram projetadas frases e pensamentos famosos. O outro foi iluminado por 24 spots de cinco mil watts cada, operando em pares com focos dirigidos para o alto e para a parte baixa da muralha. A intensidade dos fachos de luz é regulada por dimmers. Por fim, o designer alemão incluiu um efeito estroboscópico com seis mil elementos atômicos de três mil watts cada.


ÁGUA - Além do Eclipse

Projeto: Doriana e Massimiliano Fuksas
Realização: Ranger
Superficie interativa: B. Lab

A leitura como geologia e futuro. A instalação é constituída por um degrau circular de 8 m de diâmetro sobre o qual roda uma plataforma recoberta de vidro. Abaixo do piso, em uma superfície interativa feita por B. Lab, líquidos coloridos se movem com o peso de quem anda, criando formas sempre diferentes. No centro, uma bola transparente esconde um vão forrado com material refletivo e, ao ser preenchida com líquido colorido, gera uma fumaça densa. É como um passeio sobre a Terra, o planeta azul.



MADEIRA - Sssth!

Projeto: Michele De Lucchi
Realização: Listone Giordano e Intesa Sanpaolo
Luminárias: iGuzzini

De Lucchi propõe uma torre de proporções impossíveis de serem concretizadas no mundo "real". Com formato cilíndrico, seis metros de altura, diâmetro interno de 220 cm, e externo de 290 cm, a construção pode e deve ser adentrada pelas pessoas. Os tijolos de madeira com que foi montada formam superfícies internas sinuosas que refletem a luz, o som dos passos, as vozes. No lugar do teto há uma janela para o céu: uma via de escape para mandar para longe ruídos e maus pensamentos. "Olhar para o céu é a única coisa que se pode fazer para procurar o amanhã", diz De Lucchi.


MADEIRA - Cidori

Projeto: Kengo Kuma
Realização: Bals Tokyo e Motorola
Luminárias: Targetti

A tradução literal do termo japonês "cidori" é "mil pássaros". Usada como título da instalação de Kengo Kuma, expressa não a densidade do material, mas o estado dos pássaros voando pelo céu como partículas. Kuma utilizou uma técnica tradicional de arquitetura com madeira que envolve um complexo sistema de encaixe das peças, e resulta em uma construção sólida que dispensa pinos, parafusos, pregos e qualquer tipo de adesivo - embora seja de fácil desmontagem. A idéia do arquiteto foi criar uma casa aberta e transparente, similar a uma sentença composta de palavras. "Uma sentença não precisa de pregos e adesivos", diz Kuma, "as palavras, podem formar uma frase sólida, assim como podem ser facilmente desagrupadas para formar uma nova sentença."

AR - Bem-vindo ao Glassblock no ar

Projeto: Alessandro e Francesco Mendini
Realização: Seves Glassblock

Essa construção foi totalmente realizada com um novo tipo de tijolo de vidro curvo e uma técnica recém-desenvolvida que torna invisível o cimento usado para aderir os tijolos. Como uma biblioteca cujos livros devem ficam bem visíveis, representa a transparência do conhecimento.


FOGO - 100 chamas para leitura

Projeto: Odile Decq
Realização: Kerakoll Design
Iluminação: Luceplan

A instalação de Olidel Decq comemora o centenário da Mondatori, editora que publica Interni. Disposta em um pátio do Castelo Sforzesco, ocupa toda a superfície de um espelho d'água de 240 m2 revestido com uma combinação bastante incomum de tecido, plástico e resinas cristalizantes transparentes. O resultado produz um efeito de "água negra", de onde emergem cem velas de aço com alturas entre 150 e 350 cm, com 15 cm de diâmetro, cobertas por uma resina translúcida. As velas também suportam uma estrutura de painéis de aço e resina vermelha que permite cruzar o espelho d'água. Os painéis são caracterizados como os títulos publicados pela Mandadori ao longo de seus cem anos de existência.

TERRA - 4 Pontos Cardeais da Arquitetura

Projeto: Ettore Sottsass
Realização: Boffi
Mosaico: Biscazza

O acesso à mostra ganhou um portal constituído por quatro colunas de alumínio pintado, com base quadrada e 4 m de altura. As colunas sustentam dois pares de vigas de madeira lamelar, com 7 m e 9 m de comprimento, e cada coluna recebeu uma cor diferente que identifica o ponto cardeal para o qual está voltada. Assim, a coluna dirigida para o norte é preta; a voltada para leste é verde; a vermelha indica o sul e a branca o oeste. Entre os dois pares de colunas, duas casinhas revestidas de mosaico Bisazza amarelo contêm plantas e cactus.


FOGO - A Arquitetura Abstrata, Repetitiva, Padronizada e Globalizada é Lenha para Fogueira?

Projeto: Gaetano Pesce
Realização: Meritalia

A instalação exprime a opinião de Gaetano Pesce em relação à arquitetura contemporânea, tornada acadêmica, repetitiva e atrasada em relação às outras formas de expressão artística e às correntes de pensamento atuais. O designer colocou lâmpadas dentro de pequenas casas feitas de material plástico maleável, fazendo-as parecer em chamas. As casinhas são suspensas por uma estrutura metálica que delineia no ar os contornos de uma casa de dimensões maiores, fazendo com que o conjunto lembre uma grande fogueira.

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