sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Uso eficiente da água traz ganho econômico e ambiental

Das pequenas empresas às grandes indústrias, preocupação com o insumo é crescente
Na área residencial, mercado já lança projetos para evitar desperdício

Reduzir o uso da água em todas as atividades já deixou de ser uma questão exclusivamente ambiental e se tornou uma necessidade que vem sendo percebida desde a pia da cozinha até os grandes e complexos processos industriais. "É uma tendência inexorável que se trate melhor a água.
O fato concreto é que até hoje, na quase totalidade das regiões, os usuários conseguem usar toda a água que pretendem, mas isso está chegando no seu limite", diz o diretor da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), engenheiro especialista em recursos hídricos, Sérgio Menin Teixeira de Souza.  Ele diz que o Brasil ainda tem poucas ações efetivas para preservação do recurso, mas exemplos de empresas que fazem uso racional da água já existem. 
Quem vai à choperia Albanos, em Lourdes, por exemplo, se encanta com o jardim vertical de seis metros de altura, mas não imagina que a água que mantém o viço das 1.300 mudas vem da água da chuva. O jardim é irrigado três vezes ao dia, num consumo total de 75 litros de água, que são tirados de uma caixa subterrânea que recolhe água de chuva. "A longo prazo, economia é boa", afirma o arquiteto que elaborou o projeto, Luis Gustavo Vieira.  

Na Usiminas 95,5% da água necessária ao processo produtivo é recolhida, tratada e reutilizada. O processo começou em 1997, com reaproveitamento de 60% do insumo, percentual que foi crescendo com o tempo. O superintendente de meio ambiente, Ricardo Salgado, explica que as ações reduzem o impacto ambiental e geram redução de custos. O gerente de cobrança pelo uso da água da Agência Nacional das Águas (ANA), Patrick Thomas, alerta sobre a importância de se fazer um uso racional da água. "A falta de água pode afetar o crescimento econômico. Se acaba o petróleo, há outros tipos de energia, mas, para a água, não há substituto", afirma.
 
Na área residencial, desejo de ter uma casa sustentável esbarra no custo. Um projeto com reaproveitamento de água, uso de luz solar e outros recursos, custa, em média, 15% mais que uma construção convencional. "O cliente se preocupa com isso, mas desiste porque o projeto fica mais caro", afirma o arquiteto Maurício Miranda, da Torres Miranda Arquitetura. Ele diz que Belo Horizonte perdeu a chance de incluir exigências de projetos sustentáveis na nova Lei de Uso e Ocupação do Solo, que entrou em vigor em maio. Cidades como Brasília, já têm essas exigências.

Exemplo - Casa se torna sustentável
Na casa da psicoterapeuta Renata Borja sustentabilidade faz parte da rotina. Construída em 2008 no bairro Mangabeiras, região Centro-Sul de Belo Horizonte, a casa foi toda projetada para evitar gastos desnecessários, aproveitar e reutilizar os recursos naturais. Somente para recolher água de chuva são seis caixas d´água com 6.000 litros cada uma. A água armazenada é usada para lavar carros, irrigar o jardim, lavar a garagem e para descarga nos seis banheiros, todos com caixa acoplada, que ajuda a economizar água. 

"Quando comecei o projeto, todo mundo falava que não valia a pena, que ia ficar caro e nem os engenheiros sabiam direito como fazer os projetos", conta. A dificuldade era tanta que foi o pai de Renata quem teve que "inventar" um sistema que avisa quando a água dos reservatórios acaba. "Não encontrei nada no mercado", lembra. Ela gastou cerca de 15% a mais do que em um projeto tradicional, mas não tem dúvidas de que o investimento valeu a pena. "Mesmo que o ganho nunca pague o meu gasto, não me importo. Estou fazendo a minha parte, colaborando com o planeta", diz. (APP)


Desperdício Alto. 
De acordo com a ONU, cada pessoa precisa de cerca de 110 litros de água por dia para atender às suas necessidades de consumo e higiene. No entanto, no Brasil, o consumo chega a 200 litros per capita por dia.
Veja aqui o significado de cada sigla

Preço - Cobrança pelo uso incentiva boas práticas
Em Minas, três bacias tarifam quem capta e devolve a água aos rios
A cobrança pelo uso da água nas bacias hidrográficas incentiva o uso racional do insumo. A avaliação é do gerente de meio ambiente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Wagner Soares Costa. "A cobrança é necessária, inclusive, para induzir à gestão sustentável do recurso", afirma. Ele completa que as indústrias já estão desenvolvendo mecanismos para tratar e reutilizar o recurso.  Das 38 bacias hidrográficas que cortam Minas Gerais, três já têm cobranças - Araguari, Velhas e Paraíba do Sul - e em uma, a do São Francisco, já está autorizada e deve começar nos próximos meses. 

A expectativa é que, no próximo ano, a cobrança comece a ser feita em mais cinco bacias que passam pelo Estado.  No Brasil, segundo a Agência Nacional das Águas (ANA), 18 bacias já implantaram a cobrança, sendo 15 estaduais em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, e três interestaduais, que são aquelas que cortam mais de um Estado e são consideradas águas da União.  Segundo a agência, a cobrança tem o objetivo de incentivar o uso racional das águas, já que os consumidores percebem o quanto usam e investem em maneiras de reduzir o gasto. Antes de instituir a cobrança, é preciso ter um plano diretor da bacia, o cadastro dos usuários e uma agência de bacias. As empresas de saneamento são as maiores consumidoras. As indústrias representam de 12% a 18% do total, dependendo da bacia. 

Os preços também variam de acordo com a região, mas, em média, o custo é de R$ 0,01 por metro cúbico captado, R$ 0,02 por metro cúbico devolvido ao rio e R$ 0,07 por carga orgânica. Os valores podem ter acréscimos ou descontos se enquadrados em determinados parâmetros. Os valores são definidos pelos comitês de bacia, que têm a participação dos usuários. Wagner Costa explica que mesmo quem não capta diretamente do rio paga pelo uso porque as concessionárias de água e esgoto repassam a cobrança ao consumidor.
Indústria já faz tratamento




Nas indústrias, uso racional da água significa, além de benefício ambiental, redução de custos e otimização de processos. É o caso da Coca-Cola Femsa, que investe em tratamento e reaproveitamento de água, e colhe bons resultados. Há três anos, a empresa gastava 2,24 litros de água para fazer um litro de refrigerante. Hoje, o gasto é de 1,96 litro. "A economia aparece mais em volume de produção do que em dinheiro", diz a chefe de engenharia de meio ambiente da Coca-Cola Femsa, Nellanda Moulin Rocha. A fábrica tem uma estação de tratamento, reaproveita parte da água usada na produção, e também modificou alguns processos produtivos, como a lubrificação das esteiras que era feita com água, e, agora, é a seco.
Patrimônio Diferencial.
O Brasil tem um dos maiores patrimônios hídricos do planeta. Cerca de 12% da água doce superficial do mundo circula no país, o que pode se tornar um importante diferencial competitivo.


"Líquido que é a fonte da vida"
Mais importante líquido da natureza, a água representa 70% do nosso corpo e da constituição do planeta. Podemos ficar sem comer por cerca de um mês, mas apenas sete dias sem água. Mas, mesmo diante da sua importância, o ser humano não dá a ela devido valor. A água potável está cada vez mais escassa. Há muito, o homem procura resolver esse problema pela dessalinização da água do mar, mas os processos usados até há bem pouco tempo eram onerosos (osmose reversa) e obtinham um produto pobre. Nos últimos anos, um estudioso de São Paulo elaborou um método de dessalinização (eletroforese) com a obtenção de uma água rica, com cerca de 81 minerais. Esta poderá ser a solução da falta de água potável, pois trata-se de uma metodologia barata e que poderá ser usada em larga escala. É uma revolução, mas não nos desobriga a cuidar da fonte da vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário